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Uma aventura nos Hospitais Portugueses

Este podia ser o titulo de mais um livro da colecção Uma Aventura, das autoras Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães. Nos últimos 3 anos, tirei uma Licenciatura, um Mestrado e um Doutoramento no «Curso de Utente Hospitalar», pelos piores motivos, claro está! Talvez seja interessante partilhar a visão que fui adquirindo ao longo deste meu "percurso académico", com quem nunca teve que frequentar esta Universidade da Vida.

No inicio da doença, fui ao John Radcliff Hospital, em Oxford. Também tive oportunidade de ir a Bruxelas, à Universidade de Louvain. Em ambos os casos, fiquei impressionado pela qualidade e funcionalidade dos edifícios, nomeadamente, no que diz respeito à acessibilidade para os doentes e familiares. Fazendo um bocadinho o paralelo com os dois Hospitais portugueses que melhor conheço, o Hospital de Santa Maria e o Hospital de S.José, qualquer comparação seria uma afronta para os primeiros. Por exemplo, estacionar no Hospital de S.José, é verdadeiramente caótico e, note-se, estou a falar em estacionar um veículo que tem o respectivo dístico visível e que é concedido àqueles que têm mobilidade reduzida. Como os lugares disponíveis a quem possui estas características são pouquíssimos, é quase impossível conseguir-se estacionar e, conseguir chegar a tempo à consulta. Temos então outra alternativa: parar temporariamente o veículo à frente dos serviços para que o utente possa sair do carro e ser sentado na sua cadeira de rodas. Ora, isto só se consegue após uma troca de galhardetes com os zelosos seguranças da instituição. Estacionado o dito veículo "prioritário" passa-se à dificuldade seguinte. As ruas são estreitas e íngremes o que dificulta a entrada e a saída dos doentes. Os passeios não têm rampas. Chegados às Consultas Externas, passa-se à nova etapa desta epopeia: fazer a admissão nas consultas, junto dos serviços administrativos. Aqui há, mas não há atendimento prioritário. Todos os utentes são tratados de igual forma, não obstante as gritantes diferenças entre os vários tipos de doenças. Se tivermos o azar de ter a consulta em hora do pequeno almoço dos funcionários a admissão pode levar algum tempo. Dos 3 ou 4 postos disponivéis, já apanhei apenas 1 a funcionar, porque o staff estava em período de pausa. Nestas circunstâncias, havia uma só pessoa para despachar todo o serviço. Desconheço o contrato colectivo de trabalho que regulamenta as relações laborais entre a entidade empregadora (vulgo, o Estado) e os respectivos funcionários públicos. Contudo, a minha imaginação fez-me transportar para a (minha) realidade do turismo e da hotelaria. Imaginem chegar a um Hotel e não haver funcionários para fazer o check-in, tão somente porque estão na pausa para o cigarro e para o café ou porque foram à pastelaria ali da frente. Imaginem, simplesmente, porque não é possível. Provavelmente os funcionários da recepção do Hotel não ganham mais do que os da recepção do Hospital. Estamos a falar de um sector de actividade que tem uma cultura de serviço e exigência e de um outro que nem por isso. Lembro-me, um dia,  que estive à espera que a funcionária acabasse de falar ao telemóvel, para depois me atender como se fosse a coisa mais natural do mundo. Será que não há chefes de serviço com dois dedos de testa? Quando se trabalha, não se trata de assuntos privados e quando se atende o público não se fala ao telemóvel, mesmo que seja o dia de aniversário, como era o caso daquela funcionaria.
As instalações físicas do Hospital de S.José são deprimentes. O conjunto de edifícios é velho, mas não é por ser velho que é mau. É mau porque está degradado e descuidado. Num país «rico» como o nosso, é mais fácil construir um Hospital novo do que cuidar os que existem. Construir um Hospital novo dá muito dinheiro. Arranjar um Hospital velho custa muito dinheiro. Quem está no poder gosta de mandar construir Estádios, estradas, pontes, hospitais. Quem faz novo, ganha comissões e garante financiamento para o partido da sua cor politica. As empresas de obras publicas, "chefiadas" por ex-Ministros de obras publicas esfregam as mãos de contentamento. Assim vai o nosso pais. Assim chegamos a uma colossal divida pública que a próxima geração vai pagar. Assim chegou cá o FMI. Devia também ter vindo o FBI.

A acessibilidade ao Hospital de Santa Maria é muito melhor. Contudo, o tempo que se demora a arranjar lugar, também não facilita. Há de facto muito poucos lugares para deficientes. Essa situação devia ser revista. Neste Hospital as consultas externas de neuromusculares estão separadas da generalidade das outras consultas. Isto faz com que tudo seja muito mais tranquilo. O edifício de arquitectura típica do Estado Novo, é imponente. Nas zonas onde circulei, pude constatar que se encontra razoavelmente conservado. Quando em Janeiro deste ano tive uma pneumonia, recorri às urgências do Hospital. Pulseira verde, mas vá para a sala amarela, disseram-me. Entrei às 14:00 e sai às 02:00. Das 14:00 às 20:00, estive à espera de ser atendido. A preocupação da Profª Anabela, ao encaminhar-me para as urgências, escrevendo inclusivamente uma carta, contrastou com a descontracção com que me receberam na triagem. Fiquei perplexo. Devo dizer que não invejo o trabalho daqueles médicos que estavam de serviço. De facto não pararam. Não fiquei internado porque não havia camas na neurologia. Ainda bem, pensei eu. Tenho algum pavor de um internamento hospitalar, numa situação critica como a minha. Tem o quê? Esclerose quê? É a múltipla? Não, é a Lateral Amiotrófica! Já ouviu falar? Este é um dialogo recorrente, nos hospitais. Muita gente que trabalha na área da saúde não conhece a doença, e como tal não tem conhecimentos sobre como lidar com um doente com ELA.  Atenção famílias, nunca deixem um doente com ELA sozinho numa urgência hospitalar. Ele pode não resistir. Acompanhem-no sempre. Em baixo transcrevo parte da lei nº 106/2009 sobre o acompanhamento familiar em internamento hospitalar. É um direito que nos assiste.
de 14 de Setembro
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